Community justice and feminist care ethics: the experience of women community agents in Mathias Velho, Canoas, Brazil

Abstract

[EN] Over the past decade, several projects on community justice have been implemented in Brazil under the execution of the National Program for Public Security and Citizenship (PRONASCI). The Violence Prevention Center, located in the Mathias Velho neighborhood, in the city of Canoas, Rio Grande do Sul, stands as one of them. This study aims to understand, on a local level, how nine women trained as community agents in Mathias Velho have shaped their role under a critical feminist perspective. This study used ethnographic research and qualitative data analysis, with the methodological approach being based on grounded theory. In short, the main results indicate a twofold process on the formation of the women’s role as community agents. First, they largely resort to a discourse of care as a way to assert their positions, which mainly reflects the idea they should care for the community. Second, the presence of care work is highly connected to their perceptions of state institutions as flawed and inefficient, and to the non-use of law in their activities. These phenomena are then analyzed under the debate of feminist care ethics. In relation to this specific case, the overloading with unachievable expectations for their work and the use of conservative discourses have resulted in the women seeing themselves primarily as care, rather than legal, workers. This, in turn, reproduces rather than challenges sexist social structures. In short, this thesis stands as an ethnographic attempt to understand the relations between care work and the absence of law in the role formation of women community agents. It provides a feminist analysis of the use of care as a main strategy for achieving community justice, and uses a field-oriented approach to identify how it can be critically evaluated under the debate of ethics of care.

[PT] Na última década, diversos projetos de justiça comunitária foram implementados no Brasil por meio do Programa Nacional de Segurança Pública e Cidadania (PRONASCI). O Centro de Prevenção às Violências, localizado no bairro Mathias Velho, em Canoas, Rio Grande do Sul, é um deles. O presente estudo objetiva entender, em nível local, como nove mulheres capacitadas como agentes comunitárias no bairro Mathias Velho formaram o seu papel, utilizando para tanto uma análise feminista. Utilizou-se, para tanto, pesquisa etnográfica com análise qualitativa de dados, sendo a abordagem metodológica baseada em teoria fundamentada. Os resultados principais indicam um processo de duas faces na formação do papel dessas mulheres como agentes comunitárias. Primeiro, recorrem aos trabalhos de cuidado como forma de afirmar a sua posição, o que reflete a ideia de que atuam como cuidadoras da comunidade. Segundo, a presença dos papeis de cuidado está conectada a percepções acerca das instituições estatais como ineficientes, e relacionada ao pouco uso do direito nas suas atividades. Estes fenômenos são, então, analisados sob o debate da ética feminista do cuidado. Neste caso específico, as sobrecargas das mulheres com expectativas pouco realistas sobre o seu trabalho, bem como o emprego por elas de discursos conservadores, são considerados como evidência de que a formação do seu papel está fundado em noções de cuidado, e não justiça ou direitos. Considera-se que este fenômeno reproduz estruturas sexistas em lugar de desafiá-las. Em resumo, essa dissertação constitui uma breve etnografia para entender as relações entre cuidado e ausência do direito na formação do papel de mulheres agentes comunitárias. Propõe-se uma análise feminista do uso do cuidado como estratégia principal de justiça comunitária, e usa-se uma exploração empírica para identificar como este cenário pode ser criticamente avaliado dentro do debate da ética do cuidado.